O homem é o lobo do próprio homem.
Muito se aventou sobre a origem da sociedade humana, de como os homens
estabeleceram pactos sociais para, aparentemente viverem numa paz
forjada. Quando e como os homens saíram de um estado de natureza para
criarem um contexto separado dela já queimou muita pestana. Pensadores,
como John Locke, J-J Rousseau, Montesquieu e Thomas Hobbes, até que se
esforçaram bastante para resolver esse imbróglio. Porém, este último
cravou uma frase que gerou e ainda gera muita polêmica. Ele reescreveu
uma frase do notável escritor latino Plauto, “o homem é o lobo do
próprio homem”, ou seja, que, no estado natural, todos se opunham contra
todos, que a lei era a dos mais fortes e que o restante era subjugado à
força, sem direitos e com o ônus de produzir a subsistência dos
mandantes. Numa certa época (que ninguém foi capaz de precisar quando)
um pacto foi criado para proteger os mais fracos. Foi assim que surgiu o
Estado. Como antes os homens eram perfeitamente iguais (Hobbes não
explicou como então eram tão divergentes), desejavam algo que fosse
regulador do direito de todos, pois todos tinham necessidades iguais e o
mesmo instinto de autopreservação. Renunciaram então àquela liberdade
do estado de natureza em função da tranquilidade do convívio em
sociedade. O pacto firmado resolveria de vez as divergências e
permitiria à sociedade evoluir. Tudo, porém, estaria resolvido se o
Estado garantisse de fato uma paz duradoura entre os homens. Mas o que é
esse Estado? Do que ele é constituído? Se outrora, a lei do mais forte
era a que vigorava, agora é a lei do mais esperto? Os homens continuam
lutando e competindo entre si, se aproveitando dos mais fracos, das
minorias, tomaram de assalto a própria natureza e se distanciaram dela
como se ela fosse um produto a ser negociado na feira. Os homens sempre
precisaram da natureza, mas ela nunca precisou deles. Pelo contrário,
essa espécie é das mais predadoras e, sendo assim, aquele pensador
acertou em dizer que o homem é lobo de sua própria espécie. Em busca de
riquezas, notoriedade, poder, capacidade de decidir sobre o destino da
maioria, muitas pessoas, que não podem ser consideradas humanas, não
relutam em retirar do seu caminho qualquer inconveniente. Todavia, em
meio a tão vasto deserto, é possível encontrar oásis aprazíveis, com
água fresca e sombra generosa.
Augusto Sperchi
Em tempos de
tanta "competição", de tanta disputa, onde "os fins justificam os
meios", reservo-me o direito de estar fora daquelas disputas que
bestializam o homem e o torna muito mais feroz e violento do que os mais
perigosos animais selvagens.
Ao longo da minha experiência de vida,
pude ver, ouvir e até conviver com bestas-feras das piores espécies,
porém consegui, graças a Deus e a meu caráter permanecer imune aos
malefícios que tais bestas trazem para o verdadeiro convívio humano.
Jamais me curvei à selvageria e ao jogo sujo, onde se permite "pisar no
pescoço" dos outros para conseguir um posto mais privilegiado ou um
holofote direcionado para si mesmo.
Se o homem é o lobo do próprio
homem, ele também pode ser um reflexo de um Ser Supremo, extremamente
longe das atrocidades, fofocas, intrigas, violências de toda sorte que
vemos grassando diuturnamente por aí...
JP